MUDANÇA MAÇANTE

MUDANÇA MAÇANTE

Tachar o lixeiro, sujo por cumprir o dever, de chato

é simples abrir de boca e ei-lo rebaixado de posto :

um lixeiro chato por recolher os resíduos de desperdício

havido no recanto de lazer onde diversas pessoas, em ato

de sócios da natureza, sobre relvas, sob sombras, com gosto

dominical, lançaram sem perceber seus detritos - É difícil

recolher, ensacar, fechar, lacrar o invólucro plástico

próprio para conter lixo? Facilitar alheia e dura tarefa

não é usual, demanda técnica e raciocínio fantástico,

não tanto a ponto de supor que o homem de luvas blefa

ao abandonar, entre duzentos que coleta, um saco cheio de cascas

de ovo, de laranja, embalagens, latas, de unhas cortadas

em momentos de conversa solta e inconseqüente - são lascas

de árvore proprietária de um cerne que, a machadadas,

sangrou seiva para aquecer lareiras de residências,

transmudar-se em metanol sob auspícios de nobres ciências

exatas, não humanas, mas que engendram, elas mesmas,

cilindros giratórios, conversores de lixo em fertilizante :

é a metamorfose mecânica que fungos, bagaços, sobras, lesmas

atinge, fazendo da podridão fétida u’a massa preta e elegante

que, sob áridos solos, fará surgir extensos verdes e pomares,

cujas frutas e cascas fartamente retornarão aos campos e lares ...