A tua máquina de escrever é irmã da minha


                                                                            Para a criadora do Kaleidoscópio

A tua máquina de escrever
Irmã da minha
Que como advinhas
Vive lá entre as teias
Que o tempo e as aranhas
Teceram na estante fria

Calada e triste, agora,
Antes compunham
Madrugadas a fora
As trilhas sonoras
Das insônias, das dores
E porque não dizer
Também das esperanças.
Quantos soluços
No soar das teclas!...
Ah!... Quantas lembranças!
Hoje debruço
Os dedos nas teclas suaves
Silenciosas e até insossas
Dos computadores da vida.

Hoje, não tenho de, de novo datilografar
Um texto inteiro só para trocar uma palavra
Hoje se digita sem preocupação
E depois re-lê, rebusca, troca até todo o texto
E diz-se que o soneto “veio de improviso”.

Naquele tempo, não, ah! Naquele tempo
Quando todos dormiam
As minhas máquinas gritavam
Poesias por entre notas
Notas sim de dor ou de alegria...
Digo máquinas sim porque
Foram muitas e todas tinham nome
De algumas o nome já nem lembro
Mas lembro bem que tinham todas elas

Algumas foram renitentes
E diria até que contentes
Foram parceiras sim de alguns teclados.