Vou ver se me retrato do abstrato
Procurando eu acho que acho,
Dum pedaço sério ou do esculacho,
Do meu lado austero ou do “por baixo”
Qualquer traço, de bom, mínimo
Que seja do menino que fui e,
Hoje monstro feito, ainda que traquino,
Tente fingir quando demonstra
Ser ator destes mambembes...
Sem parada. Que faz da estrada
Algo contundente e confunde
Outras pessoas parentas
Ou não parentes que aparentemente
Fingem entendê-lo e, contundentemente
Revelam-lhe os segredos, os medos
E lhe dá conselhos:
“- Seja outra pessoa!... Mude este teu jeito!...”
Mas não me ensina o jeito
De deixar de ser eu mesmo
Pra ser outra pessoa
Parece até que soa
Não como conselho
Mas, como piada!...
A vida não seria nada
Sem estes contrastes
Que existem mesmo
E em qualquer pessoa.
Por mais santa que aparente
Ser e que não são.
Eu por exemplo
Já sei da moldura
Que um dia emoldurará
Meu retrato e corpo
E sei ainda mais
Sei em que parede
De terra rasteira
Serão postos: a moldura,
O sido, o que quis ser,
E o corpo. Sobrarão, pois,
Eternamente livres e soltos
Somente, - quiçá meus versos e, -
Meus pensamentos!...