Epitáfio para um amigo imginário

Como forjar o arrepiou da pele frente às gotas de chuva?

Como forjar coragem frente às barbas do medo?

Como esquecer da falta de ar ao engatilhar o cobiçado beijo?

Como esquecer o cheiro do sexo impregnado mesmo após o banho?

Há tantas coisas que podem incitar a vertigem;

Até mesmo para um amigo imaginário, uma sombra.

Há tantas coisas que podem ludibriar a lucidez;

Até mesmo para um cônego, um estandarte;

Mas não um daqueles confeccionados em manufatura

Urdida pelo tear da aliciação, aquele de inerme mote.

E sim aquele trançado a partir do fidalgo linho

Que por persistência da vocação é emplumado.

Como poupar-se das gafes ao encontro do auto-conhecimento?

Como poupar-se da frustração á espreitar o encalço da fortuna?

Como confiar na fresta entreaberta entre a cela e a fuga?

Como confiar na areia que assovia pelos vértices da ampulheta?

Há tantos segredos incrustados entre o riacho e a relva;

Até mesmo para a enxurrada que á ambos farta.

Há tantos ressentimentos á fecundar desventuras;

Até mesmo para um infausto que julgou todas desbravar.

Um soldado iconoclasta, centelha da submissão;

Entrincheirado nos poços de enxofre,

Vomitados de lucíferas bocarras,

Arrebatadas da humana ostentação.

Como deixar o para trás o aconchego do lugar comum?

Como deixar diminuído o inelutável?

Como ser o algoz da própria assunção?

Como ser agente e não apenas recordação?

*dedicado à obra de Fernando Pessoa

Fabio R
Enviado por Fabio R em 18/08/2008
Código do texto: T1134661
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