Ruas do Recife
Passear pelas ruas do Recife
(não aquelas cheias de prédios altos, repletos de transitoriedade!).
Aquelas ruas sólidas, de praças saudosas,
Chafarizes que sempre choram
Meninices e juventudes esquecidas,
Banquinhos plenos de ternura e outroras.
Contemplar as casas porta-e-janela,
Postigos fechados, cansados.
E os sobrados, inclinados sobre o rio,
Da antiga rua da Aurora.
É como tentar, em vão, reter
Flores despedaçadas, que são.
O passado bonito de matiz
Vivo ainda no quintar de sapotis
Do Bill Vieira, escutando
As conversas amenas e gentis
Dele e Maria do Carmos Lins
Mas pra quê reter a mocidade
Doce e virgem, resistente, presente,
Impoluta, nas ruas do Recife?
(agora contaminadas por carros
Que correm inutéis ao encontro
Desembestados, dos ensaios,
Dos beijos, abraços e dinheiro!)
Sem mais nada! Só lenços,
Abismos, histórias e pupilas!...
Visitar os fortes Brum
E Cinco Pontas(tão estrela!)
Freqüentar Recife Antigo
(antes,a zona,onde damas da vida,
Da noite, do dia, da tarde,
Das horas de Ave-Marias,
Vendiam alegrias, amor, mesa posta,
Sonhos e franjas de paz...)
Não! Deixemos que a nova idade
Permaneça tranqüila, sem amanhãs,
Cochilando no manso vai e vem
Da cadeira de balanço do tempo,
Refrescando-se nos chafarizes calmos
(principalmente se os bares superlotados
de "cervejantes" solitários
e quase felizes o permitam).
Façamos nas ruas do Recife
Um passeio de festa sem saudades.
Um encontro livre sem imagem.
Lavaremos varandas,ladrilhos
E antigas memórias,para depois
Darmos um bom mergulho
No mar gostoso de Boa-Viagem.
Poesia extraída do livro: Chuvas de Primavera
... e outros poemas de outono.
Página:50