VALE OBSCURO

Ah! tanto como a terra
E o mar e o vasto céu,
Quem  crê em si  próprio erra,
Sou vário e não sou eu... não sou nada... 


Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo,
Seja eu os meus pedaços,
Impreciso e adiverso... 


Se tudo que sinto é alheio
E de mim sou ausente,
Como é que a alma veio
A acabar-se em semente ? 


Assim eu me acomodo
Com o que Deus criou,
Deus tem diversos modos
Diversos modos que sou... 


Assim a Deus eu imito,
Que quando fez o que é
Tirou-lhe do infinito
E a unidade da minha  fé... 


Depois que o som é da terra, que da terra é não tê-lo
Passou, nuvem obscura, sobre o vale
E uma brisa afastando meus longos cabelos
Me diz que fale, ou me diz que cale, 


A nova claridade veio, e o sol
Depois, ele mesmo , e tudo era verdade,
Mas quem me deu sentir e a minha prole?
Quem me venceu nas raias da vontade?
 

Nada. Uma nova ondulação da luz,
Interrogando falso onde a erva esfria.
E o pensamento inútil se conduz
Até saber que nada vale a pena.
 

E não sei se isto me ensina ou aliena,
Nem sei se é alegria ou se é tristeza.
Depois que todos foram
E foi também o dia,
 

Ficaram entre as sombras
Das área e do ermo parque,
Eu e minha agonia
Macabra e fria!

Vera Fracaroli
Enviado por Vera Fracaroli em 07/05/2008
Reeditado em 31/08/2008
Código do texto: T979430
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