VOU SUMIR DE SEU MUNDO

A porta principal está aberta.

Entrar ou sair, tanto faz.

Administrar o receio do furto

já não tem mais sentido.

É cruel assumir a insegurança

de viver sem trancas.

É cruel não ouvir a intimidade

do som macho-fêmea.

Aquele entra-e-sai de linguetas

e travas estuprando batentes.

Aquele ranger de dobradiças

bem assombradas.

Aqueles punhos cerrados

toque-toqueando a madeira:

Posso entrar em seu mundo?

Aquele terremoto esganando

a maçaneta e batendo a porta

atrás de palavras:

Vou sumir de seu mundo!

Agora, a entrada e a saída estão livres.

Um grande triunfo pra esse arco.

Marco divisório de emoções.

Mas, no fundo, no fundo,

ainda guardo a chave.

Da porta dos fundos.