Venha vê o pôr-do-sol querida
Venha vê o pôr-do-sol querida
De onde quer que você esteja
Sem matéria ou ainda em vida
Ouça o pensar de quem te deseja!
Os lábios ressequidos, sem carinho
Esperam por pousar nesses teus
Onde um dia cansado achei ninho,
Para antes de morrer dizer adeus!
O por do sol querida, venha vê!
A beleza se espalha pelas águas
Do majestoso rio, pleno de poder
D’ouro nele cores vão sem mágoas
Num momento entre o dia e a noite
No fim do dia, no fim do entardecer
Eu te chamo silencioso, me acoite
Antes que me lace abraço do anoitecer
Venha querida, decidido te espero
E se não vens, assim ainda seguindo
Permaneço à beira do enigmático rio
Que me olha me chamando, e indo
Como se esperasse malograr o desafio
De te esperar e chamar do meu coração
Nessa noite em que me lambe vento frio
E quisesse juntar a minha sua solidão
Ouça só querida suas águas escorregando
Ela leva seres mortos, vivos, indefinidos
Que vão sobre as suas águas me olhando
Da escuridão, e olhos já do mundo banidos
Venha querida nessa hora que não é hora
Hora nenhuma essa hora pode ser, ou é
Venha, pois nem sei se já fui embora
Se te espero porque assim alguém quer,
Toco-me, já não me sinto! Apenas você
Poderia através de seu etéreo amor
A este que clama, numa flama, dizer
A que lado pertenço, eliminar a dor
De não saber aonde ir, por onde procurar
A quem meus ouvidos não mais ouvem
Nem parece ouvir meu renitente chamar
Como se falasse ao ouvido duma nuvem
Que o amor fez de mim, de você
Que explica essa situação pavorosa
Aonde uma oração vai longe se perder
Sem verter-se em esperança, Bela Rosa.