Como nuvem
(A uma nuvem)
Como nuvem
Veio a vontade
Não trouxe a inspiração
E agora?
Mas a vontade, insistente, toma corpo
Tira força do quanto quer dizer
O quanto não sabe de você
De onde veio? Como veio?
A que veio?
Como nuvem, veio um dia.
Quis ficar
Não ficamos
Como nuvem, pairava.
Como nuvem, caía, chovia.
Não encharcava. Era orvalho.
Brisa que umedecia o rosto
E não era absorvida. Não saciava.
Não matava a sede.
Escorria ao chão.
Evaporava.
Como nuvem, voltava.
Brigava contra o vento e voltava.
Entre nuvens, gotas, vapores...
Entre ciclos,
Você ia e vinha.
Passado um tempo...
Foi de vez.
Há quem pense que água evaporada
Seja água perdida.
Há quem pense...
Passado o tempo...
Ressurge.
Nuvens remexidas
Cinzas molhadas
Poeira assente.
A que veio?
Inexiste posse.
Inúteis intenções. Vãs.
Debochadas impossibilidades jorram. E riem.
A que veio?
Reluto.
Repenso.
Aceito. Recaio. Sinto.
Entrego.
Decepção, tristeza. Fúria.
Evito. Rompo.
Xingo. Fujo.
Recuas.
Como nuvem, volta!
Volta querendo pairar.
Está ali.
Discurso? O mesmo.
Discurso que intriga.
Intriga tanto quanto irrita.
Irrita na medida em que mostra que sabe de mim.
Como sabe?
Não devia. Não podia!
Mas, sei que sabe.
Por vezes, me vejo de alma violada,
De tanto que sabe.
Sob esse enigma, sigo em frente.
Caminho na incerteza.
Teremos:
Estiagens?
Serenos?
Tempestades?
Ou tudo evaporado?
Num novo ciclo...
Há tempo?
Tempo passado.
(15/08/2007)