Naufrág(i)o

De longe vi o barco. Nadei na correnteza, subi, chorei no leme, peguei no choro, dormi.

De perto era o mar que via longe, a terra, bem longe. Era o mar bem perto. O mar e suas batidas, nas pedras, penhascos, fiascos dessa vida que o mar enterra.

De longe ouvi o som, Sereia, na areia, no tom. Senti o seu feitiço, o viço, canção.

Nas ondas do mar,

Nos sonhos do céu,

Navegar bem longe,

Te levar bem fundo,

Para o meu lugar,

Te roubar do barco,

Mesmo sem ser roubo

Pois meu canto encanta o mundo.

E o mar bateu na pedra. E a pedra bateu no mar. E os dois no peito meu, conquistando o mundo e os olhos teus.

E a dor se fez ao som da batida, pois quando o mar bateu naquela pedra, foi a vida que fez dela o sentido da dor doída. E a pedra se abriu em ferida, mais que guerra, fez sua partida, levou os olhos meus em vida.