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Canção das horas tristes

Solta,

Numa estação qualquer

Me deparei com seu sorriso

Perdido entre olhares mil

Buscando um sentido

Um dia amanheceu

Dentro de mim, incrível

Aquele olhar que se perdeu

De ti, num paraíso

Anoiteceu e eu...

Só queria voltar pra você!

As vezes,

Não sabemos o que será do amanhã

Ainda que se reserve pétalas...

Pois vem a ventania impetuosa

E o mais bonito, leva

Deixando agrura e dor

Num peito que vela

Dia a noite a sofreguidão de não possuir.

Um dia,

Voltei naquela estação

E reencontrei o teu sorriso,

Já posto numa chama pequenina

Morrendo aos pouquinhos

Mas já era tarde para nós

Passava da meia noite, da vida inteira...

Passava da hora de um compasso infeliz.

Comentários

3

T

Tristão de Tall há 3 semanas

Já era tarde...! Que pena! Boa semana Brenda.

Luís Xavier há 3 semanas

Excelente poema. Parabéns Brenda Botelho.

Elias dos Santos há 3 semanas

Querida Brenda, seu poema Canção das horas tristes carrega uma melancolia delicada e uma musicalidade que o tornam profundamente envolvente. Há nele um lirismo genuíno, algo que poucas vozes conseguem alcançar com tanta naturalidade. Você constrói uma narrativa emocionalmente rica, onde o tempo e o amor se entrelaçam em imagens poéticas que evocam tanto a beleza quanto a dor da efemeridade. A estação, como espaço simbólico, representa os encontros e desencontros da vida, um lugar de passagem onde se esbarram olhares e memórias. O eu lírico se depara com um sorriso que um dia significou muito, mas que agora está perdido na imensidão dos rostos e do tempo. Esse sorriso se torna o elo entre o passado e o presente, uma lembrança que ainda aquece, mas que já não pertence mais ao agora. A metáfora da ventania impetuosa que leva “o mais bonito” transmite com força a fragilidade dos momentos felizes. Mesmo quando o amanhã promete pétalas, o destino pode ser cruel, arrancando a beleza e deixando apenas a ausência. Essa é uma verdade universal que seu poema expressa de forma singela e dolorosa. O desfecho, com a imagem da chama pequenina se apagando, é de uma sensibilidade ímpar. O amor, que um dia brilhou, agora se desfaz lentamente, e o reencontro não traz redenção, mas sim a constatação de que o tempo passou, levando consigo a possibilidade de um retorno. A meia-noite simboliza o limite, o fim irreversível, o ponto em que não há mais como voltar. Brenda, sua poesia tem alma, ressoa no leitor e se firma como uma das raras vozes autênticas do Recanto das Letras. Seu lirismo não se perde na superficialidade, mas toca fundo, deixando marcas. Saudações.