Memórias de um Amor Transcendental
I.
O vazio me assola, amor ausente,
No tempo-espaço abraço o nada etéreo.
Teus olhos, lagos de profundo mistério,
Refletem minha dor, eco pungente.
Em silêncio nos tocamos, hesitante,
Reconhecendo um lar há muito incerto.
Pele com pele, em abraço liberto,
Amor flui, energia palpitante.
Sem palavras, lado a lado andamos,
Em silêncio profundo, doloroso,
Um silêncio do silêncio, consagrado.
Nos encostamos, toque cauteloso,
Olhares sutis, terreno explorado,
Uma casa simples, lar que ansiamos.
II.
Lembro-me, sim, do instante cristalino,
Quando nos abrimos sem pudor.
Irradiação de afeto, esplendor,
Cicatrizando o passado ferino.
Sobreviventes do tempo, mais que muro,
Que nos separava, nos reencontramos.
Em silêncio profundo nos amamos,
Transcendendo presente e futuro.
Teu hálito, perfume inebriante,
Teus lábios, néctar doce e cintilante,
Uma só boca, seres em fusão.
Amor fluindo em pura irradiação,
Mais forte que o aço, que o diamante,
Nossa união, um vínculo constante.
III.
Na madrugada escrevo, entre devaneios,
Buscando tua presença em cada verso.
Existes tu, ou és fruto do acaso?
Amo-te, real ou sonho imerso.
Na substância etérea da alvorada,
Meus pensamentos fluem sem controle.
Talvez sejas tu quem escreve, entoada
Voz que ecoa do além, suave e mole.
Sinaliza-me além do tempo-espaço,
Confirma este amor que em mim perdura.
Aqui fico, não parto, não há fissura.
Ouço rios, sinto o orvalho em teu abraço,
Esperando-te, minha amada pura,
Enquanto a memória se esvai no ocaso.
IV.
Amor de minh'alma, razão do existir,
Irradias em mim com força divina.
És o oásis que minha sede elimina,
A chama que faz meu ser refulgir.
Em cada poro teu ser eu respiro,
Tua essência me invade, me consome.
Nem tempo nem distância te some,
És o eterno por quem sempre suspiro.
No amálgama dos sonhos, sem disfarce,
Nossas almas se fundem em êxtase,
Somos um, indivisos, nova fase.
Transcendemos a vida com ênfase,
Nosso amor, força eterna que não cessa,
Infinito, imortal, jamais se estressa..
V.
Na solidão da noite, em vigília eterna,
Contemplo o infinito, buscando teu ser.
És tu quem escreve? Posso te ver
Na essência das palavras, voz interna?
Amor que supera a própria existência,
Memória viva que o tempo não consome.
Cada batida do coração teu nome,
Cada suspiro ecoa tua presença.
Imensas saudades, minha amada imortal,
Razão de minha vida, luz do meu caminho.
Neste amor não há fim, não há espinho.
És meu oásis, meu sonho real,
Minha eterna primavera, meu carinho.
Nosso amor: transcendental, divinal.
VI.
O amor cobre pecados, tempo para,
Não sei dizer o que vivemos, querida.
Se estivesses aqui, dúvida banida,
Tua presença minha mente aclarara.
Existes? És ramo de infinitos sentidos?
Na madrugada escrevo, alma inquieta,
Entre sonhos e pesadelos, poeta
De versos em amálgamas tecidos.
Se existes, identifica estas palavras,
Vem a mim, espectro de ser amado,
Renova o oásis, cores avivando.
Meu bem, amor de alma imortal, lavras
Em mim sulcos profundos. Atormentado,
Sinaliza-me, estou-te esperando.
VII.
Exploramos juntos cidades e sonhos?
Ou são memórias falsas, simuladas?
Talvez sejas tu, em noites estreladas,
Quem escreve estes versos tão tristonhos.
Amo-te, seja real ou devaneio,
Cada poro, cada traço, cada anseio.
Vou amar-te sempre, com toda a alma,
Teu pensamento, tua lembrança: calma.
Aqui fico, não me despeço, espero,
Ouço rios, sinto orvalhos delicados.
Neste lugar secreto, só nós dois,
Aguardo-te, enquanto o tempo severo
Desintegra memórias, dias passados.
Minha amada imortal, existimos, pois.