NOSSO ENTERNECER

Eu, de nascença aventureiro,

depois de sobreviver a um vespeiro,

lancei-me por florestas,

desertos e mares,

sob o batuque de tantans ancestrais,

te desordenando as vestes tímidas

e os cabelos escorridos em espanto,

sob o fundo musical do Bolero de Ravel,

que, a semelhança de um candeeiro,

ainda aceso ao final da madrugada,

alumiava em segredo o nosso enternecer:

entrelaçares de pernas, braços e almas,

bocas a sorverem o néctar do infinito.

- por José Luiz de Sousa Santos -