A chuva imperial
Ei, querida, você não vê
Que está chovendo o tempo
Gota a gota sobre nossas pegadas?
E tudo que construimos
O que nos acompanha é apenas aquilo
Que levamos nas nossas lembranças?
Querida, ouça o vento
Ele já andou pelos quatro cantos do mundo
E nos trás a poesia das coisas
Notícias de seres que já se desfizeram
Nessa chuva que nos molha agora
E não vai parar nunca...
Aqui, veja, há um córrego cantando aqui perto
A água deve ser fresca e pura
Como nossos sonhos ainda por nascerem,
Por enquanto o que temos são apenas nossas lembranças
De tudo que passou,
É nossa riqueza,
Essa chuva cai sempre seja dia
Seja noite,
Acordados ou não,
Apenas nossa alma a resiste,
De sua alma nada vai ser tirado
Por mais lentamente que essa chuva caia
Por mais caudalosa
Que se mostre...
Vem querida,
Ali tem uma árvore de copa soberba
Podemos deitar sobre suas folhas caídas
E imaginar que nada aconteceu,
Se você preferir...
Vamos fazer uma fogueira
Há gravetos em toda parte
E podemos nos aquecer
Vendo queimar nossas amarguras
E tudo aquilo que faz pesar nossos pensamentos
Sim...
Deita-te e sonha
Que te sigo onde vá
Eu aprendi todos os segredos
Eu conheço todos os mistérios
E posso ir onde quer que vá meu coração
Porque o amor, meu bem
Tem sido a única coisa que essa chuva
Que cai sobre mim,
Sobre nós
Foi a única coisa que me sobrou
Essa chuva que muitas vezes machuca
Levando para sempre aquilo
Que elegemos como nossos tesouros
Vidas vividas e sentidas
Saudades indefinidas
De um tempo já muito distante
Inalcançável
De momentos maravilhosos
Que pensamos que iam durar para sempre,
Nada, nada, meu bem, em mim ficou...
Não tenha medo
Estarei em teus sonhos
E ao mesmo tempo vigiarei o teu sono
E quando você acordar,
Um dia você vai acordar,
Essa chuva penetra qualquer lugar
A caverna mais escura
O coração mais duro,
Amor,
Não há armaduras contra ela...
Ela leva tudo
Como um rio selvagem
Dentro dos nossos corações
Nascido aí
De correntezas bravas
Onde nossa alma imortal
Se debate
Tentando não apenas se salvar
Mas também a tudo que já viveu
Porém um dia
Ela consegue se agarrar a galhos ou pedras
E sai desse rio selvagem violento
Alimentado por essa chuva
Feita de segundo
De horas dias e anos,
Décadas, amor,
E então você sai
Sem nada
Sem roupas
Cansada de uma luta invisível
Mais iluminada
De uma luz clara azulada
Como apenas o amor,
O amor dentro de si
Para sempre...
Só assim é possível seguir
Qualquer caminhar
Sob essa tempestade sem se molhar
Sem ser levado pelas suas fortes
Rojadas de vento,
Seu relâmpagos e trovões,
Nada, nada,
Se trazemos apenas o amor
Nos atinge mais,
E somos como crianças
Que amam mais a fantasia
Que a realidade...
Você ouve, meu bem,
A sinfonia dos astros
O silêncio das coisas?
Tudo canta uma canção infinita
E maviosa...
Durma, se assim desejar,
Que eu já estou dormindo,
Mesmo que esteja a me ver falar com você agora,
A te esperar no mundo dos sonhos
No mundo que nós sonhamos
Um dia,
Lembra?
Naquele tempo que essa chuva não existia para nós...