O menino espectral
Cabelos brancos, menino de dentro o tempo todo
Conversando...
As idades vão chegando,
E alegria de viver,
Essa coisa tão rara,
Só vai aumentando...
Jesus, não me esqueço de Jesus.
Menino perdido dentro de mim
Mas não de Jesus.
Menino que chorou perdido pela aquela cidade inteira enquanto a noite se desabrochava sobre aquele dia...
Menino, menino,
Quem tanto de bateu tanto?
Foram as pedras senhor...
As pedras?
É, eu caí sobre elas e sobre o fogo e água...
Sobre o fogo e a água?
Sobre o fogo e a água e os espinhos...
Sobre os espinhos?
É, sobre os espinhos e os formigueiros...
Sobre os formigueiros?
Sim, e também sobre os abismos...
Sobre os abismos?
É, e já me deram murros na cara, sangrei...
Te bateram e te tiraram sangue?
É, e me tiraram as possibilidades...
Menino, menino, o que dizes?
Eu não digo nada senhor, és vós que estais ouvindo...
Como assim?
Não estou aqui senhor,
Esse teu rosto caiado,
Essas barbas quase cãs
Esse teu olho sem vida
Essas coisas que te deformou
As lembranças amargas da vida,
O amor que se findou
Isso que tu ainda carrega contigo,
Nem teus sonhos de agora não mais sou...
Senhor,
Eu nunca te fui...
Mais velho que a idades que tens
Foi assim mesmo
Que ao mundo se apresentou
Tristezas e alegrias que carregas,
Nenhum delas de mim se assomou...
Senhor,
É preciso que te convenças
Que eu nunca te fui,
Nunca te sou...
Cada vez mais tenho mais certeza
Que não me esqueço de Jesus...