O menino espectral

Cabelos brancos, menino de dentro o tempo todo

Conversando...

As idades vão chegando,

E alegria de viver,

Essa coisa tão rara,

Só vai aumentando...

Jesus, não me esqueço de Jesus.

Menino perdido dentro de mim

Mas não de Jesus.

Menino que chorou perdido pela aquela cidade inteira enquanto a noite se desabrochava sobre aquele dia...

Menino, menino,

Quem tanto de bateu tanto?

Foram as pedras senhor...

As pedras?

É, eu caí sobre elas e sobre o fogo e água...

Sobre o fogo e a água?

Sobre o fogo e a água e os espinhos...

Sobre os espinhos?

É, sobre os espinhos e os formigueiros...

Sobre os formigueiros?

Sim, e também sobre os abismos...

Sobre os abismos?

É, e já me deram murros na cara, sangrei...

Te bateram e te tiraram sangue?

É, e me tiraram as possibilidades...

Menino, menino, o que dizes?

Eu não digo nada senhor, és vós que estais ouvindo...

Como assim?

Não estou aqui senhor,

Esse teu rosto caiado,

Essas barbas quase cãs

Esse teu olho sem vida

Essas coisas que te deformou

As lembranças amargas da vida,

O amor que se findou

Isso que tu ainda carrega contigo,

Nem teus sonhos de agora não mais sou...

Senhor,

Eu nunca te fui...

Mais velho que a idades que tens

Foi assim mesmo

Que ao mundo se apresentou

Tristezas e alegrias que carregas,

Nenhum delas de mim se assomou...

Senhor,

É preciso que te convenças

Que eu nunca te fui,

Nunca te sou...

Cada vez mais tenho mais certeza

Que não me esqueço de Jesus...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 13/06/2024
Reeditado em 13/06/2024
Código do texto: T8085260
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