Bailarina
Quimera a razão de sentir
O pulsar de pele,
Latejando desejos que não posso viver.
... e eu, sonhadora e encarecida de colo, me atiro nos braços do descompasso de um "não possuir".
Esmaecida nos sonhos de outrora,
Vibro diante todas as falas e gozos de uma presença súbita,
Que me agride os átrios,
Nessa doação louca
Por não controlar o anseio
de expelir com toda a força,
um sentir calado e forte;
fonte de prazer,
num misto de renascimento e fim.
Devaneço ao mal passo e embeveço
No próprio mal, travestido de bem,
Pela eminência de me sentir viva.
Ora questiono:
Porque me roubas todos os anseios, se não vais ficar?
Detens minhas vontades nuas, sobre tuas mãos firmes,
como quem apara a vida no ar...
Porque és o dono do meu choro e riso...
E nessas idas e vindas de mim,
Desapego e reconecto com a insólita paz que você traz...
Doo vida e me embriago
Nesta entrega que me consome por completo.
Doce amargo que dilacera meu ser...
É desatino em peito escancarado
Que abrasa e cura, sem ter pressa de voltar...
Já não sou fúria em tua ausência
Pois minha carência é bem maior que os vãos que me tomam por solidão,
Me fazendo enxergar amor
onde somente a falta me faz habitar.
Cada dia caminhado em teu peito
É morada que atiro e morro
Num gatilho que me sustenta pendurada...
nessa masmorra que me sufoca o gozo de me sentir viva...
Ainda assim, não abro mão de balançar nessa corda insana e fria,
Onde feito pássaro em gaiola, danço, jurando ser bailarina.