Saudades de Fernando Pessoa
Vem sentar-te comigo, amigo,
Com toda sua essência,
À beira de um Penhasco
E fazemos disso uma ciência de nunca nos tocarmos...
Não precisamos de um rio, nem de qualquer canto
E o silêncio será nossa linguagem...
Não pensemos um no outro, nem em ninguém
Nem em nada desnecessário,
Nosso sucesso é sermos nós mesmos
Sendo muitos em cada palavra calada...
Poderíamos beber vinho,
Mas nossa amizade lapidada na distância,
Coisa inventada
Só nos permite isso separados...
Vem em meu sono e com a voz dos sonhos
Confia a mim teus pensamentos não revelados...
Acredito mais em ti que nos meus melhores amigos,
E no meu coração é maior a tua falta,
Mais que minhas saudades,
E os amores que tive não são nada...
Vem setar-te comigo, Pessoa
E me faz um poema sobre a ausência,
Falta nunca acabada,
Petrificada na minha alma
Que segue também torta jornada...
Ou não diz nada,
Ou não venha,
Deixa-me ser também alma abandonada,
Que canta sem musa
Uma poesia descompassada,
Que não busca entendimento,
Nem mesmo relento
Onde nenhuma alma é visitada...
Se pudéssemos pelo menos darmos as mãos
Que coisa realizada!
Mas no silêncio das coisas dissolvidas na madrugada,
É melhor que não nos toquemos
Para que nada seja lembrada...
E o canto teu que retumbe para sempre
É a minha sorte
Que sigo sem norte
Como uma coisa alquebrada...
Esquece o meu desejo de solidão, amigo
Ao desejar ser Lídia
Que não pode te tocar
E me deixa ir por onde nem tu mesmo quis andar...
Minhas reminiscências de ti são por demais distante,
Porém verdadeiramente eu só quis cantar,
Mas não consegui,
Nem conseguirei,
Todavia também carrego a tristeza do mundo em meu olhar...
Estou sozinho no meio do nada
Sem dar por mim,
Se tenho três tiros no peito
Ou se apenas durmo a sonhar...
A minha alegria é essa a de estar perdido de mim mesmo
Sem nenhuma vontade de me encontrar...
Talvez eu não te sinta por mais que more em meu coração,
E é isso que dar causa a minha original solidão...