PORTO DE ERINA

 

És o porto de Mitilene,
Onde sempre poderei atracar! 
Se meu beijo tem sabor de mar,
Com sal marinho temperado,
É porque em salmoura tenho 
Meu coração mergulhado
– perdoa-me, querida!

 

Ó amada amiga, 
Conforto me trazes 
Com o calor do teu colo 
Macio e perfumado 
Sobre o qual langorosa 
Me debruço contristada 
– que minhas lágrimas
não lavem e levem seu calor, 
não apaguem seu fogo abrasador!

 

Que Afrodite seja a única 
A banhar e inundar teu colo 
Com suas águas cíprias,
Agitadas e espumadas!

 

Ao teu colo,
Safo querida,
Apenas trago tormentos, 
Borrasca, tormentas... 

 

Abraça-me, 
Segura minha mão; 
Salva-me!

 

Preciso desabafar, 
Desafogar-me desse mar de lágrimas 
No qual me encontro naufragada!

 

Deixa-me flutuar 
Junto às ondas afrodisíacas
De tua cabeleira violácea
Até a tua costa nua
!

 

Podemos ficar 
Um pouco assim,
Em teu leito? 

 

Inerte e náufraga,
Sinto por um momento,
O perfume de tuas madeixas oleadas 
Me insuflarem ânimo e coragem 
Para te olhar nos olhos 
E te contar minha desgraça!

 

Minha vontade é ficar com a tez 
Escondida em tua nuca 
E os seios nus apertados 
Contra tua pele nesse abraço 
Emaranhado pelas comas
E entrelaçado pelas coxas! 

 

Faz-me esquecer de tudo: 
Vira-te e abraça-me,
Sufoca-me com teu entresseio perfumado
Para que em nada mais possa pensar;
E depois beija-me,
Para me furtar todo o fôlego, 
Todo o hálito de vida e esperança;
Suga-me os suspiros 
Até que a psique escape de meus lábios 
E voe do teu alegre leito em Mitilene
Para o lutuoso leito de Caronte, no Hades!

 

Agora já me sinto mais forte 
– tu me das essa força! 
Sinto-me forte 
Ao sentir meus seios contra os teus 
E ver minha face lacrimosa espelhada,
Levando-me a refletir sobre tudo
Enquanto me vejo refletida
Em teu olhar tão escuro e cintilante
Quanto esta bela noite estrelada
!

 

25/10/2023

 

 

Obs.: Erina de Telos foi uma poetisa grega, amiga de Safo (alguns a consideravam mais do que uma amiga).

 

Nota sobre a foto: “Safo e Erina em um jardim em Mitilene”, tela pintada em 1864 pelo britânico Simeon Solomon (1840 – 1905).

Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 25/10/2023
Reeditado em 25/10/2023
Código do texto: T7916931
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