HELENA DE MITILENE

 

Teu corpo é minha Hélade
E por isso, sou Helena,
Não por nascimento ou por beleza,
Posto que tão bela assim não sou
E do teu ventre não venho,
Embora nele repouse
E entre tuas coxas viva,
Bebendo da fonte termal
Que transborda desejo
E em abundância celebra a vida! 

 

És Helena 
Não apenas pelo nome
Ou porque nasceste
Na Hélade formosa, 
Mas porque excedes
O ideal de beleza helênico:
És efígie da bela 
E desafortunada 
Rainha de Esparta, 
Símile à Afrodite
– enlouqueces como Helena!

 

Seduzes como Helena,
Posto que tua beleza
Poderia provocar tragédias,
Tornar-te vítima das maldades
De homens como Teseu;
Tornar-te vítima do amor e da beleza
Como com a rainha ocorreu
Ao ser prometida a Páris,
E fatalmente levar deuses e homens 
A conflitos épicos e bélicos
– não se pode ser tão bela
sem que ocorra uma desgraça!


Não, não sou como a ti:
Não afronto a Afrodite 
Com uma beleza imortal!

 

Não seduzo como Helena,
Nem levo reinos à contenda;
Sou Helena porque vivo em ti 
E habito teu acalorado seio:
Navego por tua costa,
Singro as ondas da tua cabeleira,
E caminho por teu solo,
Por tuas cálidas areias,
Assim deixo pegadas e cócegas,
E em risos te contorces deliciosa 
– amo ser Helena!

 

Em comum com Helena,
Tenho apenas o célebre nome
E a loucura de minha vida
Deixar para trás e me entregar 
A um lindo e mágico amor
– estou perdida de amor!

 

Helena de Esparta,
Depois de Tróia
E agora de Mitilene,
Não importa qual sejas:
Importa ser minha Hélade
E por amor fazer-me Helena
– amo ser Helena!

 

17/10/2023

 

 

Nota sobre a foto: “Helena de Tróia”, tela pintada em 1898 pela inglesa Evelyn de Morgan (1855 – 1919).

Julia Lopez
Enviado por Julia Lopez em 17/10/2023
Reeditado em 25/10/2023
Código do texto: T7910869
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