A POETA E O SANFONEIRO
A POETA E O SANFONEIRO
Me pediram para puxar um fole.
Puxei o fôlego e as lágrimas com as lembranças.
Eu te amei muito sanfoneiro, nem mesmo eu sabia disso.
E você me deu mais do que eu merecia.
Confesso que sinto falta do cheiro das flores silvestres,
Da demonstração de amor no romper da aurora,
Do cheirinho fresquinho de café coado na hora.
Das histórias contadas, seu colo, e suas gaitadas.
Sinto falta do seu som e da sua música improvisada.
Sempre senti a dor da sanfona e também do sanfoneiro.
Vivi belas tardes fagueiras e o seu sorriso matreiro.
Impossível esquecer do acordeom de minhas lembranças,
Ele era verde, cor da esperança.
Hoje guardo tudo isso com muito amor e respeito.
Pois o poeta amava a sanfona, e a poeta o sanfoneiro.
É certo que o som de ambos ficou um pouco desafinado,
O sanfoneiro abandonou a sanfona e a poeta o seu amado.
Restou-lhes um triste som a ecoar sem vida, calado.
Assumo minha responsabilidade e deixo você com a sua.
Foi necessário mudar de cenário para a cura,
Deixar num lugar sagrado a lembrança do sanfoneiro.
Ambos ouvirão para sempre aquele som propagado.
O som de um beijo azul num coração moreno,
E o de um beijo moreno em um coração azulado.
Demorei muito para aceitar e entender.
Nem mesmo Luís Gonzaga e Dominguinhos entenderiam.
Mas, hoje consegui acompanhar os passos desse bolero
E perceber a necessidade de finalizar esta dança.
Por isso, anuncio agora meu querido sanfoneiro
Eu deixo você em Paz.
Preciso seguir!