[três (1/36)]

Eu poderia largar o cigarro

E em passos largos

Me largar de cabeça

No teu peito

Eu poderia

Em vilas acidentadas

Ou portos brancos,

Velhos

A(r)mados

E usados

Abrir a janela ao lado

Pro vidro corrente de ar

E quebrar com um só impulso

No pulso-coração

O cunho da estrada

Voando baixo

Nas linhas brancas

Ou me arrastando

Pelas sujas de bordô e carmim

Eu poderia até mesmo

Te cobrir

Com meu já empoeirado

Manto carmesim

Poderia

Secar o inviável viés

De naufragar o desejo

De morar aos teus pés

Poderia quiçá

No todo do ódio

Que te corrompe o sutil codinome

Morrer de desejo

De pavor ou terror

Na infinita angústia

De suprir tua fome

Quebrar os limites,

Jaulas, paredes ou gaiolas

E sufocar com as correntes quebradas

O todo do mal que te apetece

Eu poderia tudo isso

Se com sorte

Algum dia

Com teu andar-vôo

Nas minhas linhas hoje vazias

Você também me pudesse

Elizabeth Gomes
Enviado por Elizabeth Gomes em 12/02/2023
Código do texto: T7717729
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