[21/02]
Não é que eu não tenha feito
um esforço desmedido
pra não escrever o poema do último suspiro
Mas agora teço um verso que é um terço dividido
entre o que antes tava posto,
o que eu achei que tava morto
e a tua voz no meu ouvido
Entre essas próximas dez linhas,
a música alta da vizinha
e você flutuando seus dez passos
entre o cigarro da varanda
e a cerveja da cozinha
Que eu dilascere mais dois pares de óculos
perca 5 ou 6 relógios
pra entender a estrada curva que começa na tua nuca,
se arrasta mais de um metro e meio
e desaba no verde-âmbar dos teus olhos
Que eu reinvente a poesia,
crie uma máquina do tempo e redescubra Alexandria
tenha mais três epifanias
e o azul do céu perca o valor do seu esboço
ou que os esforços sejam tantos (mesmo ainda sendo pouco)
Não é que eu não tenha feito
um esforço desmedido
pra não me perder no teu sorriso
Nem que os versos tenham caído em qualidade
ou que tudo escrito antes tenha umas mil meias verdades
naquele tempo falecido
composto por metade amor, metade vaidade
O poeta virado do avesso
também é uma espécie de recomeço
É sua sina o engessar das rimas
que escreve no declínio dos dias:
Viver dos aplausos da coisa cíclica
de beber - com orgulho - da mesma fonte
a fim de escrever eternamente
a mesma poesia