[o resto da parte de casca que sobra, o vento descasca na unha]
I.
rasos são os dias
sem contagens
epifanias
e algaravias
raros são os dias
em que me sobram
enchem
ou alucinam
as poesias
a noite avisa com seu choro
que o repetido chega novo
uma vez mais
e que a iteração
do breu do cais
é violência
que o espaço em branco
brandeia o arfar das reticências
e que essa penumbra
(e os dias, noites e o que mais há)
é resultado de um ar amaldiçoado
que me constipa de ausência
II.
pode ser que essas linhas
(tão trépidas, tão rígidas)
sejam grito de um tempo de esperança
e esses versos difundidos
apenas dentro da garganta
possam finalmente ganhar voz
sei que pode nem ter rima
sei que pode nem ter nós
III.
sei que sou
só um amontoado de quases
quase gente
quase humano
quase triste
quases silêncios,
mentiras
e vontades
no fim,
nessa falta de contagens
eu sou até quase metade
IV.
peço a Deus e aos orixás,
considerando que nem creio,
que essa oração
travestida de poema
contemple um ser qualquer
(um quase amor)
que não me lê
e que não leio.