[o resto da parte de casca que sobra, o vento descasca na unha]

I.

rasos são os dias

sem contagens 

epifanias

e algaravias

raros são os dias

em que me sobram

enchem

ou alucinam

as poesias

a noite avisa com seu choro

que o repetido chega novo

uma vez mais

e que a iteração

do breu do cais

é violência

que o espaço em branco

brandeia o arfar das reticências

e que essa penumbra

(e os dias, noites e o que mais há)

é resultado de um ar amaldiçoado

que me constipa de ausência

II. 

pode ser que essas linhas 

(tão trépidas, tão rígidas)

sejam grito de um tempo de esperança

e esses versos difundidos

apenas dentro da garganta

possam finalmente ganhar voz

sei que pode nem ter rima

sei que pode nem ter nós

III.

sei que sou 

só um amontoado de quases

quase gente

quase humano

quase triste

quases silêncios, 

mentiras 

e vontades

no fim, 

nessa falta de contagens

eu sou até quase metade

IV.

peço a Deus e aos orixás,

considerando que nem creio,

que essa oração

travestida de poema

contemple um ser qualquer

(um quase amor)

que não me lê

e que não leio.

Elizabeth Gomes
Enviado por Elizabeth Gomes em 08/02/2023
Código do texto: T7714489
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