O CAFÉ E O SORVETE



 
 
 
Estávamos numa sala de aulas. Eu, ela e outras quarenta crianças. Isto é, adolescentes. Era uma escola normal, hoje em dia chamado de magistério.
Nossas carteiras não estavam tão perto uma da outra, mas a uma distância em que eu podia falar e ouvi-la. Ao término da aula a convidei para um café na cantina da escola.
Em resposta ela me disse que não aceitava o café porque iria almoçar, porém, após o almoço aceitava tomar um sorvete comigo. Nossa! Essa resposta soou como uma linda canção no meu ouvido.
Marcamos o encontro numa padoca onde tinha os dois, café e sorvete. Naquele calor de 30ºc à beira-mar realmente o sorvete de frutas que tomamos foi revigorante. Caiu como uma luva.
O bate-papo rolou legal. Falamos das matérias escolar, de músicas, da natureza, da beleza das praias, costeiras e barcos, céu e mar. Enfim, esgotamos um repertório de assuntos, menos sobre nós.
Nem percebemos o cair da tarde e o sol se aconchegando nas montanhas. Veio dela então um novo convite. Que tal agora tomar aquele café? Assim fizemos. Convite aceito. Por mim aquele dia não devia terminar nunca.
Após o café veio dela espontaneamente um beijo bem macio e cativante nos meus lábios. Arrisquei-me e retribuí acanhado. Ela apenas rodeou-me com seus braços e meiga me beijou feliz, agora na boca, até com sofreguidão. Claro, novamente retribuí a altura.
Entre cafés e sorvetes nos encontramos inúmeras outras vezes até que um dia nos casamos. Isto já faz quarenta anos. Ah! Que saudade dos tempos em que namorar eram um ato sublime de amor e respeitoso. O que narrei não é lamúria. É o prazer e a alegria de dizer que quando há amor um cafezinho ou um sorvete servem para unir um casal eternamente.