No vão das horas…
No vão das horas vazam os quereres,
Emperram-se risos, morrem os instantes…
Pelo vão das horas sucumbem os haveres,
No vão das horas sopram os ventos errantes.
No vão das horas vão-se as musas,
No vão das horas um amor termina…
No vão das horas a saudade é profusa,
O vão das horas o tardio extermina.
O vão das horas não passa em vão…
O vão das horas deve ser preenchido,
O vão das horas desconhece a razão,
No vão das horas há sonhos perdidos.
No vão das horas alguém enlouquece,
Se o vão das horas é somente solidão…
No vão das horas a sensatez desfalece,
Sufoca e não favorece o solitário coração.
No vão das horas o sol se vai…
No vão das horas murcham-se as flores,
No vão das horas a noite cai,
Nos vão das horas habitam os horrores.
No vão das horas tudo se esvai…
No vão das horas grita-se as dores,
No vão das horas a Deus buscai,
O Senhor das horas, das amoras…
dos amores.