Silêncios

Era tanto barulho

Tantas palavras

Tantas coisas a serem ditas

Era ânsia

Era disposição

Era a espera mais longa

Interminável

Insuportável

E as palavras se soltavam

Se emaranhavam

Iam, uma a uma,

Te buscar

Se alegravam

Cantavam

Dançavam

Felizes por te encontrar

Era tanto sendo dito

Era música aos ouvidos

Que o corpo se embalava

E leve

Pelo ar dançava

E foram tantas coisas ditas

Palavras infinitas

Tingidas na mais bela tinta

Que sendo assim nascidas

Imaginavam uma vida

E assim, palavra por palavra

Ao cuidado eram deixadas

Em embrulho amarradas

Pelo laço que moldava

Um coração que esperava

Esperava

Esperava

Esperava

...

E na espera

O silêncio tomou

Uma a uma

As palavras

Deixando ali

Abandonada

A moça

Que esperava

No silêncio

Silenciada

Foi descrendo

Nas palavras

E da espera

Já machucada

Deu um grito

Foi despertada

Enxergando

Que só palavras

Não bastam

Não completam

A jornada

De quem busca

Na estrada

Mais que só palavras

E a moça

Já sem nada

Emudece

Segue

Outra jornada

Sozinha

Onde nada

Faz tocar

A sua alma