PAPÉIS DE SEDA
- Em, 21 de Dezembro de 1997.
Papéis de seda não enfeitam apenas pipas
De moleques de calções imundos
Enfeitam também sonhos
De poetas vagabundos como eu.
Minha poesia não mais rabisca o mundo
À procura de rimas pobres
Que combinem com amor, dor, calor.
Aquela forma pueril de "meu amor"...
Que fala de “Minha dor...”, “Teu calor...”
E outras simplórias rimas de cor.
Antes me faço teu cantador de reais ilusões,
Faço-me o teu catador de palavras
No aterro atrás de minha consciência
Para sustento e ego de minha inspiração
Que insistem, com o meu consentimento,
Mirar em teu norte.
E no decorrer observo cada detalhe
O conjunto de tua beleza
Que só um tolo insistiria em não perceber
Na certeza que és a boa virtude de meus olhos
Apenas ver-te passar
Seria uma necessidade à sobrevivência
De minha terrena felicidade,
Pois me perderia nas espirais de teus cabelos
Negros como a noite quase sem estrelas...
- Quase!
Pois és a única que agora brilha faiscante
Diante de meus olhos.
Papéis de seda não voam apenas na barriga de pipas
De garotos saltitantes em tenra alegria
Voam também nas costas de minha sadia obsessão
De ver-te em real alegria
Sem estardalhaços de fantasia.
E este sou eu
Este ser de quem sabe não passe
De uma profunda e inerte teoria
Mas bem sei, quem sabe, com bem dizes:
- Um dia!
Que depois da semente de meus beijos
Serem plantadas
Em teus lindos rubros lábios
Tu não adiarás por nem mais um dia
A vontade de estar enamorada...
E saberás que serias bem mais
Que a doce suposta namorada.