A canção do amor a si

Agora posso me ver

Finalmente sou eu

Não é somente a face

É muito além da forma

Me vejo não completo

Mas em construção.

Quando me vejo

Tem muitos eus

É tanto tempo

É tanta vida

Se esvaindo com as areias do tempo.

Amei, chorei, sorri

E quando me olhava no espelho

Era um outro alguém

Um ser desconhecido

Um intruso, um eremita

Sem face

Disforme

Dissonante

Perdido num caos sinestésico.

Mas cá estou eu

Inteiro, mas incompleto

Típico de quem se constrói dia após dia

Não sei o que procuro, mas não estou perdido

Sinto meu corpo arder com a Inapagável chama da mudança.

Transmuto tudo aquilo que já fui

Transmito o melhor que posso

Destruo o obstáculo que entrar no meu caminho

E renovo com música o que outrora é somente descompasso.

Um dia chorei por um abandono repentino

E agora me refaço

Passo a passo

Com a fúria da expansão do espaço.

E por entre as pedras

Encontrei um sorriso de paz.