Vida pela metade
Algumas vezes
Se guardar no ensurdecedor silêncio
É violentar-se em confusos pensamentos
E dar ao outro um presente que de dor
Fez as tramas da carne em flor
Nem em daqui a um milênio
Compreenderás o que causou
És um ébrio
Que lúcido vagueia
E cego tateia
Na tumba do meu amor
Não percebes o que tocas
E arrancas, sem enrubecer
As flores que perfumam meu padecer
Pisas sem decência
Sem ouvires meus gritos por clemência
Que aos mortos enlouquecem
E a você nem enternecem
E verei passar os anos
Sem a luz trazer-me calor
Enterrada nessa terra
Condenada a grande dor
Como ousei sonhar daqui
Com vida e amor
Como pude por um dia
Arrancar as armaduras
Deixar a pele nua
Infiltrando subcutaneamente
O fel da decepção
Envenenando esse morto coração
Que um dia fez-se bater
Por apenas sonhar com você
Entediosa é minha estada
Nessa terra abandonada
Apodrecida a minha alma
Fétida a pele minha
Ser repugnante
Que se enoja ao se ver
Talvez daí o teu desdém
Tua ignorância ao meu ser
Que me enterra no mais profundo
Impedindo que nesse mundo
Minha lápide se rompesse
Deixando que minhas mãos
Tocassem você
Me bastaria um segundo
E que esse toque pudesse ser
Recebido em repulsão
Aquecendo minhas entranhas
Trazendo à vida o meu ser
Deixando com que eu deixe
De ser um ser errante
Pela felicidade me caber
Mas é um sonho, simplesmente
Não me olhas
Nem me vês
Outra coisa não serei
Senão uma morta a viver