Vida pela metade

Algumas vezes

Se guardar no ensurdecedor silêncio

É violentar-se em confusos pensamentos

E dar ao outro um presente que de dor

Fez as tramas da carne em flor

Nem em daqui a um milênio

Compreenderás o que causou

És um ébrio

Que lúcido vagueia

E cego tateia

Na tumba do meu amor

Não percebes o que tocas

E arrancas, sem enrubecer

As flores que perfumam meu padecer

Pisas sem decência

Sem ouvires meus gritos por clemência

Que aos mortos enlouquecem

E a você nem enternecem

E verei passar os anos

Sem a luz trazer-me calor

Enterrada nessa terra

Condenada a grande dor

Como ousei sonhar daqui

Com vida e amor

Como pude por um dia

Arrancar as armaduras

Deixar a pele nua

Infiltrando subcutaneamente

O fel da decepção

Envenenando esse morto coração

Que um dia fez-se bater

Por apenas sonhar com você

Entediosa é minha estada

Nessa terra abandonada

Apodrecida a minha alma

Fétida a pele minha

Ser repugnante

Que se enoja ao se ver

Talvez daí o teu desdém

Tua ignorância ao meu ser

Que me enterra no mais profundo

Impedindo que nesse mundo

Minha lápide se rompesse

Deixando que minhas mãos

Tocassem você

Me bastaria um segundo

E que esse toque pudesse ser

Recebido em repulsão

Aquecendo minhas entranhas

Trazendo à vida o meu ser

Deixando com que eu deixe

De ser um ser errante

Pela felicidade me caber

Mas é um sonho, simplesmente

Não me olhas

Nem me vês

Outra coisa não serei

Senão uma morta a viver

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 18/09/2021
Reeditado em 18/09/2021
Código do texto: T7345153
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.