Alucinação
Hoje
Depois de outro dia solitário
Acordei e percebi
Que havia um vazio ali
Bem do meu lado
Percorri, com o olhar
Todas as direções que pude alcançar
E nada
Não havia outra coisa
Pra além do vazio no teu lugar
Lancei as primeiras palavras
Tentando diagnosticar
O quanto estava sozinha
O quanto iria chorar
E em meio ao silêncio
Que se amplia como o vento
Fiz-me fria
Imóvel
Evitei até respirar
Esperando que percebesse
Que pequena fiz-me ser
Tola
Ao me encolher
Pude apenas o ver
Seguindo tua vida
Como sempre se pôs a fazer
Envolvida pela dor
Com o amargor escorrendo na garganta
Despi-me de ser santa
E confrontei-me com você
Escolhi cada palavra
Pra apenas o fazer ver
Que maltrata a minha alma
Ao não me reconhecer
Triste e miserável tentativa
Pois apenas o fiz arder
Numa febre que só se acalma
Ao se sobrepor ao meu ser
Tentei com as palavras
Entre as tuas a mim lançadas
Tudo te fazer ver
E em cada frase minha
Mais tua ira vinha
E atacava o meu ser
Me vi ali culpada
Por fato que nem sabia ser
De minha autoria
Destinados à você
Em cada palavra tua
Que a mim descrevia
Rasgava a pele minha
Me via completamente nua
E expurgado de meu ventre
Você fazia nascer
Um ser completamente
Desconhecido em minha mente
Mas que me dizia
Ser essa a minha essência
E que eu maltratava você
Era eu a perversa
Que ao mundo te ricularizava
E você apenas tentava
Agradar ao meu ser
Assim, com essas palavras
Recolhi-me pra não fazer
Tua ira ampliar
E minha alma enlouquecer
Guardei tua palavras
No terreno mais profundo
Em ébrio tentativa
De apagar de minha vida
As tenebrosas feridas
Infundidas em alma minha
Vesti meu rosto num sorriso
O pranto enxuguei
Pra você mudei o tom
Que a tristeza à mim me deu
Atendi ao teu pedido
E tudo em mim calei
Dei-te o lugar no mundo
E dele me retirei
Disse o que querias
Que minha boca te falasse
Mesmo que minha alma
Morresse ao pronunciar
Mas morrer é o preço
De um viver sem esperar