Ventos
O vento de outra noite
Bateu em meu rosto
Misturou meus pensamentos
E num canto misterioso
Do meu coração
Brandindo o arco da paixão
À mim revelou
Um sorriso malicioso
Que devolveu-me o sonho
Com todo ardor
O vento de outra noite
Tudo derrubou
O frio mármore enclausurou
O que antes era paz
E na brisa matinal rola,
E contrista
Olha de um pedestal
Onde o nome do artista
Se esconde entre as sombras
Os pensamentos maus
Vão e vêm, no medonho
Pressentimento de um futuro
Ermo e fatal
E tu mesmo
Ali paralisado
Enternece
Com a obra que teus ventos
Construiu ao destruir
Olhando pra você
Vejo teu olhar se perder
E uma borboleta
De ouro e púrpura
Vejo a voar
Sobre as ruínas
Que sobraram desse lugar
Por um instante,
Breve tempo
Ao olhar para você
Percebo teus olhos
Perdidos num mar
E quase posso te alcançar
Mas tempo por ser tempo
Não se prende no lamento
E ao novamente te olhar
Já não mais estás
Ligado aos teus ventos
Nesse mesmo lugar
Resta-me a borboleta
Resta-me o vôu
Resta-me a espera
Resta-me o sonho
Resta-me a quimera
Resta-me outra noite
Resta-me o lamento
E espero por teus ventos