Grito II
Me dói na alma o reflexo do "sentir" na pele. Me cansa a forma como me tomas pelas mãos... por vezes estranha alegria, tortura, sombria abjuração.
Eu vivo sedenta em pertencer a mim. Mas tão logo, tu vens, e me arranca de minhas prendas, fazendo de meu lar, céu aberto a se habitar. Me entregas uma paz tão fugaz!
Me apego a frieza de renegar teus beijos. Me aqueço das dores passadas, na eminência de me defender de teus abraços. Mas você, nada sabe de mim... nem percebe minha ojeriza em ser teu manjar.
Me procuras como se tua alma, mórbida, encontrasse cura dentro de meu corpo, a exalar o gozo que tanto precisas.
Indecente é esse teu modo de me amar, sem se entregar, fazendo que minha carne, te sirva de alimento vivo. Grito, na ilusão que teus ouvidos frígidos possam interpelar por mim, pura ilusão!
Eu tenho medo de quando você se aproxima, a ponto de me ferir e saciar-se simultaneamente, com tamanha displicência e riso torpe.
Meus "ais" não ecoam, então sigo, fingindo me manter viva, pra tua carne saciar mais esta noite - que mais parece uma vida (sobrevivida), felicidade mórbida.