Poema – O Segundo Círculo
Poema – O Segundo Círculo
‘’ Como as Flores que nascem em cemitérios
Ou os vermes que vivem nos porcos
O seu amor nascia das coisas mais tristes
A sua vida
Era uma metáfora
Entre os sonhos de uma criança
E os pesadelos de um Suicida
Ele sempre soube que não poderia
Faze-la feliz
Mas lutar contra a sua própria natureza
Era a única coisa que o mantinha vivo’’
Eram duas e trinta e cinco da manhã
O dia tampouco importava
Afinal, para um viciado coberto de vômito e mijo
Que há dias não levantava da cama
Os dias tampouco importam...
Há algo poético na depressão
Que somente os suicidas conseguem compreender
Não é o suicídio que eles tanto almejam
E sim a morte da criatura que vive em seu Peito
E para isso
Para destruir aquela criatura horrenda
Que se alimenta da sua sanidade mental
Os suicidas vendem suas almas
E corroem os seus corpos
Poucos são aqueles
Que sobrevivem a esta batalha infernal...
E como um homem
Com a alma tão podre
Poderia ser amado por uma alma tão pura?
Ela era doce e gentil
Como a estrela da manhã
Ou o sol a iluminar os jardins dos céus
Com os seus olhos doces e inocentes
Ela enxergava naquele decadente Poeta
A luz que ele nunca foi capaz de enxergar...
A sua depressão
era como a morte de um buraco negro
primeiro extinguia-se toda a luz que existia em seus olhos
depois suicidava-se
na mais terrível escuridão
Ainda assim
Ao seu lado
Ele demonstrava todo o seu amor
um amor que ele tampouco conseguia compreender
Lutando diariamente contra
A sua própria natureza
Ele a amava cada segundo
Como se fosse o ultimo
Porque talvez
Para um suicida
Aqueles talvez fossem os seus últimos segundos...
Na sua ausência
Ele se resguardava na sua escuridão
Cercado por crises de pânico, antidepressivos, drogas
E os seus bons e velhos demônios
Ele a amou por alguns longos anos
Amaram-se tão completamente
Que um dia, sem uma explicação ou sentido
Tal como era a vida
Ela partiu
Sem ao menos dizer adeus...
Ele nunca a culpou
Afinal
Ele sempre soube
Que nunca poderia ser amado
Enquanto aquela criatura
Vivesse em seu Peito (...)
- Gerson De Rodrigues