Mar noturno
Me embrenhei no mar calmo e sem espumas
sob o luar da negra noite de seu olhar
que me afaga, salga e afoga em plumas
no eterno desvario de um breve amar
A vastidão dói mais que a agulha da areia
em ti, magnólia noturna, brilha a estrela cadente
caída em minha praia, lânguida sereia
que rumou ao sul em um enternecido poente
Poesia flutuante de sua garrafa, voz de melodia
Seus olhos, espelho d’água em alma marinha
refletem aquela noite que não sucumbe ao dia
embriagado, meu coração só quis te fazer minha
sal da terra, sal do mar, espinho da rosa, espinha sua
peixe fisgado, livre, não te tive no mais curto instante
ondas vagas não te afugentam na noite sem lua
apenas quebram e esperam a sua volta estonteante
Enquanto a rocha apanha das águas, imagino a sua candura
A Terra está novamente embebida no breu da escuridão
que se alastra até te perder de vista, até perder minha cura
que é você, bem sabes, minha salgada e doce ilusão.