Vinho predileto

A noite lavava as dores

Que com suas sombras

Fez cerrar as pálpebras

A espera de outra aurora

Ligeira como a brisa

Passou por mim, sorrateira

E à ela bebemos

Um vinho antigo

Cor de rubi

Aroma denso

Corpo suave

O apreciaremos

Com toda calma e cautela

Deixando os lábios

Tocados pela taça de cristal

Enebriados pelo festival

Que explode no toque dela

A Alma quer a paixão

Que tal vinho lhe oferece

Ainda que nisso haja tortura

Vai alegre a sua procura

E esse insano coração

Por mais estranha que seja essa ligação

Ambos se desejam

E concordam

Ser um caso de amor incontestável

Ah! Bem sabem

Não há razão

Para os dois não se sentirem

Para não se juntarem

Nesse sabor

E um no outro se preencherem

Pois um sem o outro

Não há amor

E se um ao outro

Se provarem

Folgarão em seu jardim

E logo sentirão o ardor

E nunca haverá fim

Beber o langor

Do seu sabor sedutor

Sem ser imitador

Apenas sentir teu sabor

No que tem muito calor

Não te ocultes na taça fria

Toque os lábios dessa que um dia

Provou o mel da deusa fria

Não te ocultes no vinhedo escuro

És meu fruto predileto

Deite-se em meus lábios

E me seja perpétuo

Teu aroma

Me dominou

Meu olfato conquistou

Sua face, minha visão prendeu

Ainda não sabes

Mas já és meu

Desta insônia

Indomável vinho

Que submissa digo um único nome

Doce nome que é o teu

E depois de bebê-lo

Redimo-me

Apago os vestígios de meu crime

E te peço

Mesmo diante da carne que mordeu

Não me beba o sangue que é meu

Tenha piedade

Não me faça essa maldade

Tenho tão pouca idade

Que esse sabor que é só teu

Só me traga felicidade

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 28/05/2020
Reeditado em 01/11/2021
Código do texto: T6960760
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.