Vinho predileto
A noite lavava as dores
Que com suas sombras
Fez cerrar as pálpebras
A espera de outra aurora
Ligeira como a brisa
Passou por mim, sorrateira
E à ela bebemos
Um vinho antigo
Cor de rubi
Aroma denso
Corpo suave
O apreciaremos
Com toda calma e cautela
Deixando os lábios
Tocados pela taça de cristal
Enebriados pelo festival
Que explode no toque dela
A Alma quer a paixão
Que tal vinho lhe oferece
Ainda que nisso haja tortura
Vai alegre a sua procura
E esse insano coração
Por mais estranha que seja essa ligação
Ambos se desejam
E concordam
Ser um caso de amor incontestável
Ah! Bem sabem
Não há razão
Para os dois não se sentirem
Para não se juntarem
Nesse sabor
E um no outro se preencherem
Pois um sem o outro
Não há amor
E se um ao outro
Se provarem
Folgarão em seu jardim
E logo sentirão o ardor
E nunca haverá fim
Beber o langor
Do seu sabor sedutor
Sem ser imitador
Apenas sentir teu sabor
No que tem muito calor
Não te ocultes na taça fria
Toque os lábios dessa que um dia
Provou o mel da deusa fria
Não te ocultes no vinhedo escuro
És meu fruto predileto
Deite-se em meus lábios
E me seja perpétuo
Teu aroma
Me dominou
Meu olfato conquistou
Sua face, minha visão prendeu
Ainda não sabes
Mas já és meu
Desta insônia
Indomável vinho
Que submissa digo um único nome
Doce nome que é o teu
E depois de bebê-lo
Redimo-me
Apago os vestígios de meu crime
E te peço
Mesmo diante da carne que mordeu
Não me beba o sangue que é meu
Tenha piedade
Não me faça essa maldade
Tenho tão pouca idade
Que esse sabor que é só teu
Só me traga felicidade