Taça de amor
Neste instante sagrado
À ti devotado
Quero entrar por tuas entranhas
Misturar-me ao que te faz
Intimamente impregnar-te
De tal modo que não separe
Nem por vil instante
A mim do teu sangue
Coloque-me, meu amado
Nesse cálice entalhado
Por bravo fogo e mãos detalhistas
Que por um sonho de conquistas
Esculpiu cada detalhe
Derrame-me sem dó
E erga-me aos teus lábios
Me permita em cada nota
Nunca mais te deixar só
Coloca-me em teus lábios
Entreabertos a me esperar
Engole-me com desejo
Daqueles que só sabem amar
Sinta cada nota
Sem pressa
Devagar
Me perceba nas miuces
Meu tanino a te encantar
Sinta em cada gota
Qual fruta está a notar
Não me deixe nessa taça
Sem todo me tomar
Sei que por vezes notará
Que há acidez no paladar
Mas não há vida
Se não houver o balancear
Tome-me toda
Cada gota
Só desejo
Dentro de ti habitar
Te prometo
Em tom solene
Se for preciso
Serei vinho de altar
Apenas doce
Sem que a ti
Roube o que te prende o paladar
Ah! Meu querido amado
Só desejo não mais ficar
Engarrafada
Empoeirada
Neste frio lugar
Leve-me em ti
Me arranque deste inverno
Que já me é eterno
Beba-me
Faz-me parte
Nem no vidro da garrafa
Nem no cristal da taça
Não é esse o meu lugar
Ergua-me até a última gota
Derrama-me em tua boca
Assim
Devagar
Gota por gota
Chegarei onde preciso estar