O jardim de Michele
Quem disse que flores
que beijam o sol
não são suas?
Que o brilho do raio de lua
não lhe acaricia a pele?
O que escrevo em cores
são como arrebol
que nem sempre diz tudo
Tem coisas que fico mudo
p'ra que o peito não se revele
Quem disse que o vento
não lhe assopra?
Que a vida não topa
mais sentimento?
Quem disse isso tudo?
Quem acoberta
de forma omissa
que não conta o que acerta
e o todo que muito atiça
e não derrama o conteúdo?
Quem faz outra realidade
e em fantasias p'ra eternidade
lhe canta em ilusão?
Quem lhe faz tanto cortejo
enquanto sonha com beijos
que só existem na canção?
Ah, esse sou mesmo eu
Homem que não cresceu
e no poema muda seu nome
Que a chama
de chama, de fogo, de luz
todo o clarão que me tome
Que a engana com outros temas
em palavras de bis e blues
pois todos rabiscos
são um mesmo poema
Tenho o medo
como um corisco
que no escuro
se finja de lume
Sou esse que se esconde
e não importa aonde
exporta ciúmes
Então, quem lhe contou
que nada restou
do jardim?
Esse está plantado em mim
com raízes que estão
se expandindo
Têm colibris de coloridas penas
Tizius e bem-te-vis
que a viram serena
Tem riacho e um mirante
para um olhar distante
e infindo
Têm cães uivando
para as noites e as manhãs
Têm tâmaras e romãs
Têm azulões em meio
ao seio dos ninhos
Têm caminhos
p'ra todas as direções
Têm livros e radiolas
borboletas e carambolas
brincadeiras de bolas de gude
e toda a plenitude
das tardes de violões
Tem o perfume saindo
até sua direção...
Têm rosas, jasmins
dálias e cravos
resistentes e bravos
Só assim
eu
sou teu
sou coração
25-01-2020
16h16min