Além de qualquer possibilidade
Venha comigo
Venha comigo, disse a mim uma voz noturna,
Na minha noite
Na noite de meu ser
Em meio à escuridão em que me perdera...
E como eu hesitasse
Um ser de penumbras se revelou
E escondia seu rosto enigmático
Enquanto em caracóis se movia
e dizia ermamente...
Venha comigo,
Venha, sou o teu caminho,
Um equilíbrio para tua alma,
Venha,
Venha comigo,
Findou-se a estrada,
Fitar o abismo não é o teu destino...
Eu que estava perdido
Avesso que sou
Ao mundo e às coisas
Fiquei lá ouvindo
Sem interesse de saber
Quem era o ser
Nem do que ele falava
Pois distante no tempo
Ausente em lembranças
Dos seres pensantes
Dos seres intervalares
Nessa mágica da vida
Nessa espera da morte
Nessa busca de objetivos
No espalhar desses sonhos,
Costurados sonhos impossíveis...
Eu ausente, ausente, pensamento,
Apenas pensamento,
Sem corpo e sem filosofia,
Sem contentamento
Sem poesia,
Eu,
Ausente,
Sob a abóbada das questões seculares...
Eu apenas seguia
Sem esperar que chegasse
Nem que de repente se revelasse
A mim um novo sentido,
Uma nova estrada
Um impulso de vida...
Uma nova esperança,
Eu desértico
Sem querer aquela força
Sem querer aquele olhar
Sem querer pensar
Tentando não ser
A me incomodar com qualquer anseio
De que fosse amigo
De que fosse um sonho
De que fosse emplasto
Para uma dor profunda
Num desses seres tão frágeis
Que acordam e vão
Levando a vida possível
Num mundo de impossibilidades
De brownianos encontros
De fugitivos sorrisos
Amassados por dores
Sempre crescentes
Sob a luz de uma vela
Que cambaleia sob a lufa invisível
De segredos eternos
Ininteligível ao seres utópicos,
Utópicos mesmo que tenham denso ceticismo
Nesse mundo estranho
Nesse mundo pequeno
Nesse mundo de mundos
De grandes desconhecidos
E perdidas infâncias
Nos mares do esquecimento
Além de qualquer possibilidade
2006