PRINCESA KAZOLA
(acompanhado de ngola-mata, coro e dança)
A tarde temperada pelo cheiro do mar azul
Havia aprovado a chegada da Princesa e do mancebo
Que trouxera sasa* no seu chifre de pakasa*
Com imenso aprazimento que lhe fez morada
O escolhido acedeu a servir-se acompanhante dela
Em dias de solidão e noitadas de cacimbo
Porém, ao lado oposto do extenso terreiro
Impulsivos dignitários acotovelavam-se
Em conseguir vislumbrá-la
(pelo que pude constatar)
Enquanto cá
A tamanha multidão arredou-se e curvou-se toda
Ante a elegância e nobreza da lindeza trajada
De ndalu*, jihai e enfiadas de jingondo*
"É de matar...!" dizia-se ao vê-la gingando
(A meio de palmas e desmesurados louvores)
Mostrando os peitos empinados contra a brisa
E suas ancas roliças, com um incrível fascínio
Que tantos sentimentos ateava
Provocando ciúmes por toda sanzala e aléns!
No alto, Lemba, deusa da fecundidade, sorria
Legando-a a herança divina
E uma pluma nupcial de corante púrpura
Amparados uns pelos outros e todos suados —
Os iniciados no rito cantavam exaltações
Mediante mascaradas festivas do reino
O séquito acompanhava dançando em frenesi
Gratificando o espírito benigno da alta noite
E o amor que lá pernoita
"Saboreai os vinhos da palmeira mais fértil
E alegrai-vos ainda!"
Intercedia o Mestre-de-cerimónias
Entre facécias
A lua amadureceu no céu do leste longínquo
A Princesa manteve-se frondosa na terra arável
Como o mupepe* das primeiras frutas
E o ngola-mata* tocara até ao alvorecer!
Sasa = beberagem para suscitar o amor.
Pakasa = boi gigante de cor vermelha.
Ndalu = saia curta feita de fibra de baobá.
Jingondo = joias em ouro.
Mupepe = arbusto aromático de fruto comestível.
Ngola-Mata= instrumento musical.
Escrito em Kimbundu.
Tradução portuguesa do Autor.