Orbital

Ainda bebo da chuva

ao lembrar que fui nuvem...

dei ao mesmo outra roupagem

fermento na coragem

ferrugem na covardia

Bolero em dó, sol na viagem

Fui um dia a tua noite

sempre pernoite

em tua fantasia

Fui teu fado, fada minha

auto-degredo, a tua pinha

a linha do teu carretel...

quis ser tanto teu poeta

com as trovas certas

de menestrel

Eu toquei o céu

e o violão era lua cheia

Eu te cantei, sereia

enquanto tua teia

me tecia o abraçar

Em um tempo que parecia

eternidade e meia

quando tu, barco constante

e eu era alto mar

Eu vi cantar

em asa de passarinho

beijei sabor de vinho

em saliva de amante

Segui teu caminho

andei por teu carinho

ninho de Cervantes

Nunca tive medo antes,

do povo da aldeia...

Eu tombei moinhos

lá nas terras de São Pedro

Deixei o chão

de gosto de areia

O coração lia outro enredo

o corpo era sinônimo

de incendia

Fui fogo em teu incêndio

seiva quente em teu mato

passo livre da tua estrada

A mecânica do teu aparato

A semântica do teu abstrato

todo o tudo aonde era nada

Fui Peter, fui Pan, fui Sátiro...

transcrevi meu significado

vi futuro em aguardo

Eu fui casa, fui retiro...

depois só um papiro

para agora ser passado

Eu bebo da chuva

e quando eu era nuvem

tenho sonhado...

Orbital

29-11-2018

01h23min

(Murillo diMattos)

Murillo diMattos
Enviado por Murillo diMattos em 29/11/2018
Código do texto: T6515057
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