Uma Só Voz
Não quero que me ames
No labirinto da tua carência
A incompletude do teu quebra cabeça
Não pode te impor uma peça falsa
Um encaixe forçado
No teu coração que se alça
No vazio de outra ausência.
Não ouses me querer
Sob o manto do abandono
Ou de uma desdita
Do tecido, a textura áspera e fria
Da insofrível despedida
Não agasalha nem por um dia
A epiderme de uma partida.
Não tentes
Te saciar comigo
Pelo cálice das tuas lágrimas
Ou na cantilena das tuas lástimas
A tua tristeza deve ser
Bebida,
Sorvida
Na liturgia do teu silêncio
Contido, ativo, altivo
Pois é primeiro na solidão
Nesta ditadura
Que buscamos o curativo
A atadura
Para refazimento do coração.
Portanto, ama-me apenas
Na plenitude
Do teu amor
Sem a subjacência
De uma feroz e lancinante dor
Ou de uma dúvida de igual valor
Pois, só assim
Na inexistência
De qualquer algoz
Nossos sentimentos
Cantarão uníssonos
Pela mesma voz.
©Leonardo Eirado Silva Gonçalves
(Todos os direitos reservados, nos termos da lei 9.610/98).