DIVISANDO O QUERER
O amor em suas nuances faz sonhar com o impossível
Horizontes se abrem e os obstáculos são amenizados
Pela ternura de pequenos detalhes que chegam a trazer
Lágrimas pelo simples ouvir: eu te amo!
Aos poucos, porém, o amor dial faz cessar o perfil de posse.
O ser amado se liberta, mas, de repente, o outro descobre
Por veredas instintivas, em noites frias, sem alegria,
O desamparo e a negritude da solidão.
Não há juventude para sempre e, pouco a pouco,
O encanto dá lugar às doces recordações vividas
Até que, num dado momento, surge o gesto frágil
De outro alguém que desperta sentimentos renovados.
O que fazer com o sentimento dividido?
Difícil, para os humanos, viver sem a ilusão do amor em plenitude,
Mas essa plenitude quando incerta, entre duas vertentes,
Prenuncia disputa em que o corpo se avulta, mas a alma decai.
A verdade, enfim, surge como um terremoto em larga escala
Os sentimentos doces ficam à deriva, soltas no tempo,
E as calamitosas conseqüências do querer se enganar
Vedam os olhos para as ternuras findas num horizonte perdido.