Liane
Liane
(O primeiro grande amor a gente nunca esquece)
Onde estavas tu,
Ó deusa dos meus sonhos?
Linda sereia, ocultaras tua visibilidade
Ocultando-me para o bojo da saudade
Passeavas lívida nas profundezas das liquefações
Imergindo nas águas que rolaram, como monções
Por debaixo das minhas pontes
Em muitas madrugadas insones
Ó, por que levastes, de décadas um par e meio
Para emergir do abismo do meu falso esquecimento?
Observavas-me, travessa princesa, sem cerceio
A liturgia dos anos de submersão do meu sentimento?
Sonhei contigo em várias estações:
Na primavera, colhia-me o olfato
As essências doces, fortes exalações
Das flores que te ofertara pelo tato
No outono, minha’lma ouvia de um modo insano
O desfolhar destes nossos trinta e quatro anos
Que da árvore do amor que plantamos
Caiam como as folhas, sobre o solo do abandono
No inverno, sob o frio do estalar daqueles galhos
Sentia-me triste, perdido, sem itinerário
Estava muito só, completamente solitário
Carente dos teus beijos, meus melhores agasalhos
No verão, ao largo do seu sol inclemente
A presença do vazio do teu corpo ausente
Sufocava-me, as libidos ainda persistentes
Lembranças daquelas noites muito ardentes
Onde estavas tu, meu brilho, meu intenso calor?
Esperei-te, conjugando todas as formas do amor
Tu que modelada nos barros, como em tua certidão
Vieras-me trazer dos teus campos minha redenção
Agora, finalmente, saístes deste invisível canto
Ouviste, finalmente, a voz do meu desencanto
E por isso, em júbilo, consequência do meu reclame
Posso tê-la agora e para sempre minha amada LIANE.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
16 de junho de 2017