Plenitude

Plenitude

(Inspirada na música “Todo Sentimento” de Chico Buarque e Cristóvão Bastos)

Já é tarde, eu sei.

Percebo que a sua presença me escapou dos dedos,

Que agora só sentem a textura fria do abandono.

Mas mesmo assim

Recuso-me a partilhar a minha tristeza com a sua ausência.

Por isso mesmo,

Necessito manter-me vigilante

Até o esgotamento completo

Do tempo que sobrevirá ao teu esperado regresso

Necessário me faço caminhar intensamente pelo vazio

À cata de um relógio qualquer para o coração

E nesta sorvedura, degustar seu amor em todas as suas cadências.

Hei de encontrar

Ainda que seja nos estertores

Uma oportunidade que resgate o nosso auto sequestro

Que junte os cacos do exílio

E os remonte em mosaicos nos vitrais da alma.

Dedicar-lhe-ei toda a vida

Até o prenúncio de fenecimento do amor,

Por exaustão.

Então, retirar-me-ei

No incoar de um novo ciclo

Desiderato de fuga da insofrível despedida.

Assim, envolto em insulamento

Poderei decerto encontrar-te

Quem sabe na etérea lembrança

Na qual tudo silencia;

Hibernam-se todas as coisas.

Neste instante, plenamente estarei sempre contigo;

Nos seus devaneios mais fantásticos.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

Outubro/2017

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 22/05/2018
Reeditado em 24/08/2018
Código do texto: T6343140
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