Plenitude
Plenitude
(Inspirada na música “Todo Sentimento” de Chico Buarque e Cristóvão Bastos)
Já é tarde, eu sei.
Percebo que a sua presença me escapou dos dedos,
Que agora só sentem a textura fria do abandono.
Mas mesmo assim
Recuso-me a partilhar a minha tristeza com a sua ausência.
Por isso mesmo,
Necessito manter-me vigilante
Até o esgotamento completo
Do tempo que sobrevirá ao teu esperado regresso
Necessário me faço caminhar intensamente pelo vazio
À cata de um relógio qualquer para o coração
E nesta sorvedura, degustar seu amor em todas as suas cadências.
Hei de encontrar
Ainda que seja nos estertores
Uma oportunidade que resgate o nosso auto sequestro
Que junte os cacos do exílio
E os remonte em mosaicos nos vitrais da alma.
Dedicar-lhe-ei toda a vida
Até o prenúncio de fenecimento do amor,
Por exaustão.
Então, retirar-me-ei
No incoar de um novo ciclo
Desiderato de fuga da insofrível despedida.
Assim, envolto em insulamento
Poderei decerto encontrar-te
Quem sabe na etérea lembrança
Na qual tudo silencia;
Hibernam-se todas as coisas.
Neste instante, plenamente estarei sempre contigo;
Nos seus devaneios mais fantásticos.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
Outubro/2017