ADIVINHA DA CABACINHA

(ao som de njimba)

Peregrino por nascentes do Rio-Tempo

Cavalgando vagas e travessando valadas —

Não me importo saber da distância

Entre a terra lamosa e o céu noturno

Vou ao encontro d’ adivinha famosa

A adivinha da cabacinha d’ água

Que leva cruzado sobre tetas enormes

Tiras das quais pendem amuletos

Cumpro ordens do Distinto Kasamba*

E faço-me acompanhar da lua –

Minha vigia alta e nua

Que garante a chegada como devido

Tenho em mãos umas trituradas secas

E o lume que afina o batuque feminino

Para a noite propícia ao canto do sapo

E a dança da rã

Esta noite que percorro viajando afora

Como um homem d' alma possuída

Buscando por adivinha da cabacinha

A fim de ler-me a sina

Eu vou ao encontro d’ adivinha sagaz

A meiga sacerdotisa da cabacinha d’ água

Entregue aos ídolos que vagueiam lá

Em meio àquela imensa floresta

E se acaso me avistar com ela ao redor

Farei culto cantando quão bela ela é

E porventura ela desvendará em mim

O segredo do Totem mais vivo e forte

Qual serpente assim sedente

Suspirando por água da cabacinha dela

E também por aquelas, aquelas pétalas divinas

De que na mesma cabacinha d' advinha

Se encontram à mostra, convidando!

Njimba: instrumento musical.

Kasamba: divindade protetora de rãs e sapos.

Escrito em Kimbundu.

Tradução portuguesa do Autor.