Já estava ferido de amor
Quebrei os copos,
esmurrei os cacos
e não senti nada.
Já estava ferido de amor.
Bebi todas,
arrumei intriga, brigas,
me feri, rompi, matei
Já estava bêbado de amor.
Fui preso, paguei caro,
perdi tempo, vida,
me fodi todo.
Já estava fadado ao amor
....
... os excessos jorram, extrapolam e nos levam por outros caminhos, outros rios, nos fazem marinheiros, vadios, marginais, sem arreios, incômodos, indomáveis, intratáveis.
... nós que sofremos com nossos próprios eus e experimentamos nossos venenos, que fazemos os passos com nossos pés e não precisamos de seguidores e nem de cartilha.
... só o que extrapola interessa, o que resta, a rapa, o resto, o que vaza, os prazeres renegados, o pecado, nós que nos trituramos quietos e nos remontamos incertos, cada vez menos aparência, em essências, essenciais, que passamos fome e comemos arte.
... somos seres sim, sinceros, mistérios que não domamos, extrapolamos, e não nos calamos nunca, escrevemos com o corpo, com sangue, que rasgamos a pele.
... esse meu coração não bate, pula-cutuca, faz ruptura, bate-se contra o muro e vai em frente, errático, errado, cigano: tudo domado, mas riscado por dentro como num ritual, todo pintado, tingido, tatuado, pele viva, em eterno tormento, tormenta, tempestade.
... não é pouco, nem é metade, é o que extrapola e ninguém nota, mas faz a diferença, lá na frente, por isso deserto, solitário, indomável, necessário.