Último dia (?)

Garras cravadas na areia

Águia indecisa no deserto

Agarra-se a possibilidades

Alimento escasso

Água finda

E à frente

A imensidão do firmamento

A fatalidade do precipício

Ziguezagueia lentamente

As vezes olha o céu em busca de ar

O precipício tão próximo a lhe confundir

Treme

Recua

O estômago aperta

Olha em vão para o chão quente

À frente

Alimento farto

Ou fadada ao fracasso

Como?

Como abrir suas imensas asas

Às incertezas

Águia bela e poderosa

Experimentando a indecisão

Num heróico esforço

Forjando o medo

Se precipita ao precipício

Sua cabeça é um turbilhão

O corpo pende

A gravidade e o silêncio

Pedras

Parcos galhos

Pedras

E o peso

Sentido dos dias

O ar

Preso

Num ímpeto natural

Abre as asas absurdas

Ao mesmo tempo em que o vento

Seca-lhe a lágrima

E sobe

E sem certeza

Plaina sobre a imensidão

Do céu

O ar

Rarefeito lhe atordoa

Ainda

Só plaina

Sem saber

Fernanda Garoli
Enviado por Fernanda Garoli em 07/01/2017
Reeditado em 07/01/2017
Código do texto: T5874696
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