CONFESSO!

Não mais haverei de te deitar morno olhar,

porquanto orbitamos divergentes esferas,

com distintas fronteiras encravadas no mar,

somos cargas iguais eternizando as esperas.

Se a união dessas cargas só gerou repulsão,

projetando os corpos em contrários sentidos,

o atrito das almas contrariou a questão,

ao dobrar os joelhos dos instintos rendidos.

E de joelhos estarei te amparando o orgulho,

apenas se aprenderes que o recuo é sublime

e que a visão clarifica exorcizando o augúrio,

destinado às intenções condenadas, se crime.

Mas se culpada fui em malsão julgamento,

repudio-te os métodos de arbitrário juiz,

me negando a defesa que total livramento,

dar-me-ia na batida desse martelo infeliz.

Confesso-me culpada pelas nuvens nos pés,

desde que juntos corremos a alegres brincar,

desejei possuir o intenso homem que és,

apesar da tristeza que é amar sem tocar.

Contrita, também me declaro inocente,

se a intenção defendida é contrária à dor,

simbolizando a fusão de uma alma carente

com um espírito de luz destinado ao amor.