DAQUELA PAZ
então, ela me disse:
- eu vou, pode ser que eu não volte
e era mesmo certo:
a não volta
a revolta de não tentar
agora que eu nem mesmo sei de mim
busco-me nas pequenas coisas que se perderam
todos nós nos perdemos um dia
eu me perdi naquilo que não disse
eu me perdi por querer um mundo ilusório
agora estou na estante do passado
como quem destrói um sonho
e na parede aquele cara de braços abertos
sou eu
peço perdão, mesmo que de longe você não escute
sou frágil
quase tronco que se verga
com a força do vento
peço espaço para passar com meu lamento
agora que os dias são iguais
e no silêncio do quarto
eu tento ser melhor
só eu sei por onde começar
amar era uma promessa de salvação
então, por que nos perdemos
nisso que seria a solução?
agora sangro
e tudo escoa rapidamente
com o tempo, aprendemos como doer
não temos mais idade para sofrer
e cobrar do outro atenção
quando sinto o aperto
faço poemas
canções que jamais cantarei
afinal, não é isso que se espera
de quem está aqui para se construir?
agora, deixe-me ir
parto, sem itinerário definitivo
pode ser que amanhã eu nem esteja aqui
mas viver com você foi bom demais
pelo menos, um dia eu tive paz