BONECO DE NEVE

Toda a alegria que me deixa tão pasma,

vem desse toque rescendendo à paixão,

exorcizando esse maldito fantasma

e libertando as mil correntes do chão.

Vivia reclusa em castelo assombrado,

por precoce escolha fantasiada de amor,

mas a primeira chuva revelou o estrago

e a purpurina do carnaval acabou.

O belo se fez fera aniquilando sonhos,

pisoteando a magia que esperava ali.

Fez do meu sono um despertar medonho

e de minha vida uma prisão sem fim.

Até que a voz replicada em dedos

tomou posse dos dias e a solidão afastou.

Desafiando toda a sorte de medos

e me mostrando que o sofrimento acabou.

Mas meu desejo quis trazê-lo para mim!

E ele veio em linda fantasia glacial!

E o amor consumou nosso fim,

derretendo o gelo do meu boneco irreal.

A intensidade do pouco que foi vivido,

há de me consolar os soluços no peito.

Já que não posso mantê-lo comigo,

hei de esperar um novo inverno perfeito.